O projeto para o Colégio Estadual José Leite Lopes e NAVE (Núcleo Avançado em Educação) tomou corpo na parceria entre o Instituto OI Futuro e o Governo do Estado do Rio de Janeiro. A implantação de um novo projeto pedagógico fruto desta parceria busca atender alunos do ensino médio do sistema público.
A escolha pelo local de implantação da Escola interferiu fundamentalmente no desenvolvimento de um projeto de arquitetura que não só absorvesse as necessidades de atender os compromissos pedagógicos e funcionais de uma escola, mas que transcendesse este quesito básico.
O local escolhido pelo Instituto OI Futuro para a inserção desta Escola consiste num bloco de dois edifícios, onde, atualmente, funciona o Centro de Distribuição de Linhas Telefônicas da OI. O maior objetivo do projeto consiste em ter que atender ao uso escolar e ao mesmo tempo isolar as áreas técnicas deste Centro, pois é inviável a realocação total do antigo uso.
Porém o desafio de conciliar dois usos aparentemente desarmônicos é interessante, quando relacionamos a esta questão as tendências globais promovidas na reconstrução e transformação das grandes cidades, como o Rio de Janeiro, e seus centros urbanos abarrotados de concreto, vidro, aço e gente.
As novas condições sociais, e conseqüentemente, arquitetônicas interferem na vida das cidades, que vêm, na sua condição heterogênea, encontrando saídas curiosas para exemplos de incompatibilidade de usos como este, onde a ocupação dos vazios e a sobreposição de sistemas de mobilidade tem se transformado constantemente, sendo hoje a chave para a boa conciliação entre atividades que aparentemente não conversam.
No caso de nosso projeto para o NAVE na Tijuca, o primeiro passo foi entender o sistema de uso das áreas que necessariamente deveriam permanecer isoladas a sua atividade de manutenção e programação. Isolar estas áreas de um sistema próprio de circulação e acesso clarificou as direções a serem adotadas nas demais áreas de interferência das atividades da escola.
O próximo passo foi tomar conta dos espaços vazios deixados para a ocupação da escola, criando um sistema independente de usos e circulações através da inserção de um edifício escada, que conecta os andares ocupados pelo novo uso, atendendo as necessidades de acessibilidade e nova dinâmica do lugar. Internamente, uma antiga escada e três elevadores também conspiram para a adaptação do novo uso.
O edifício escada é constituído de estrutura de aço, revestido por uma camisa de placas de chapas galvanizadas expandidas com diversos gradientes e nuances de transparência, trazendo para a fachada principal a nova intervenção fruto da reforma dos espaços e da adaptação do novo uso. O novo estende-se se expondo a cidade também pela inserção de uma plataforma técnica, que funciona como suporte a logomarca da NAVE e de um painel itinerante, criado pelo designer Jair de Souza, que veste parte da fachada do edifício antigo com imagens produzidas por estudantes.
As áreas de acesso de alunos, funcionários da escola e do público se concentram no primeiro e segundo pavimentos, já que o térreo situado no nível +1,23m é tomado pela Central de Comunicação da OI. O primeiro pavimento está no nível +4,19m e basicamente funciona como atendimento, direção, sala de professores, refeitório, cozinha, serviço e manutenção. Este nível +4,19m é o mesmo do acesso de serviço, situado na rua lateral Santa Maria Rosselo, onde encontramos guarita de controle de serviço, acesso de carga e descarga e área para funcionários.
O Segundo Pavimento, nível +7,11m situa-se o primeiro andar de Laboratórios, Auditório (para 119 pessoas) e Exposição. O 3º. Pavimento, nível +12,80m, e 4º. Pavimento (nível +18,30m) são ocupados por salas de aula. No pavimento de Cobertura, nível +24,09m, está localizada a quadra poliesportiva e os vestiários, que serão objeto de execução em fase posterior.
Os andares se configuram como grandes espaços vazios sendo ocupados por volumes que carregam consigo seu uso específico, sendo possível identificar nestes vazios os volumes de salas de aula e demais atividades. É esta postura que definiu a forma de construção e utilização das salas de aula, aproveitando as janelas e o sistema de ar condicionado existente em cada andar.
Com esta especificidade o cuidado com a acústica para o funcionamento das salas e dos ambientes externos a elas é fundamental. Portanto, para atender a esta necessidade foi desenvolvido pelo eng. Moyses Zindeluk, em parceria com nosso escritório, um sistema de absorção e reflexão do som que torna o ambiente, praticamente aberto de salas de aula, acusticamente adequado para as atividades escolares, sem desqualificar o conceito arquitetônico de ocupação do espaço pelos volumes e de aproveitamento de sistemas mecânicos de condicionamento de ar existentes.
O mesmo espírito intervencionista que ganhou forma com a reforma e a mudança de parte do uso deste conjunto de edifícios, inspirou a programação visual adotado pelo design Jair de Souza, que trouxe o estereótipo da “linguagem digital” para dentro da escola, fazendo da gráfica aplicada as paredes, teto e piso uma marca expressiva na arquitetura dos espaços da NAVE e da Escola Estadual José Leite Lopes.